domingo, 14 de agosto de 2011

Padrões, macaquices e tolices...

domingo, 14 de agosto de 2011
Estão todos os rockeiros gaúchos aí, bem preocupados, com os boatos de que a Rádio Ipanema perderá todo o seu estilo peculiar e sua tradição dentro da música gaúcha (sempre tocando rock e outros estilos que se tornaram alternativos no país que hoje pode ser chamado de País do Funk, da Falta de Noção, da Tolice e Deselegância). A rede Bandeirantes de SP teria dito "ok, o povo gaúcho é idiota como todo resto - e isso pra mim é um absurdo sem tamanho, acho que em todos os estados brasileiros muitos rockeiros devem sentir muita falta de uma rádio como essa para ouvir em um domingo de tarde -, vamos colocá-los a ouvir merda como todo resto, que se exploda a música de verdade, vamos transformar o cérebro dessa gente em patê com pagode, Ivete Sangalo e Luan Santana". Bom, por enquanto tudo não passa de especulações, se a programação da rádio vai realmente mudar, saberemos na segunda-feira, dia 15.

Bom, vou contar a vocês um segredinho que aprendi ao longo da minha não tão longa vida: ORIGINALIDADE MATA. Ser diferente de um padrão, ser diferente de um comportamento esperado, ser diferente em um gosto, ser original em um hábito, ser original em um campo de comunicação... tudo isso te trará um problema em algum momento. Se alguém por aqui já viu o filme "Não Estou Lá" ("I'm Not There", de Todd Haynes), onde 6 atores interpretaram diferentes facetas do excelentíssimo Bob Dylan, deve ter notado como o filme aborda aquela presença das pessoas (e existem muitas, muitas mesmo, pessoas assim) que são os verdadeiros Dementadores de todo mundo que tenta criar algo próprio, algo seu, da sua forma e sem as interferências mesquinhas da OPINIÃO ALHEIA e dos padrões sociais. Mudar é um problema; mudar para uma coisa que as pessoas não esperavam que você fosse mudar é pior ainda. (link com um trecho sobre isso no filme aqui). 

O ser humano gosta de padrões, creio que isso tenha explicação na nossa evolução. Na natureza, animais que fogem dos padrões dos outros indivíduos de sua espécie (padrões morfológicos ou comportamentais)  podem representar um problema para o bando, ou uma incapacidade de ter descendentes férteis. Necessitamos ser iguais ao nosso bando para sobrevivermos, para nos reproduzir, enfim, é aquilo que alguns psicólogos chamariam de "ser aceito". Mas existem questões na nossa sociedade que beiram o ridículo: padrões de burrice, de falta de senso crítico e respeito não são bons padrões a serem seguidos. Mas infelizmente, esses são os padrões que mais imperam na nossa sociedade, no nosso convívio. Porque diabos temos sempre que seguir e aceitar padrões ruins? Porque uma rádio que quer fazer sucesso precisa tocar funk pra isso, porque ela não pode tocar Chopin? Música é música, todos nós temos as mesmas capacidades de assimilação das frequências sonoras (menos os surdos, claro, apesar de eu saber que existe uma metodologia com luzes que faz com que surdos possam "enxergar" as frequências de uma música), e música boa é música boa! Não faz diferença se você vive na favela ou no meio do mato, em LA ou no deserto do Atacama: eu garanto que se você parar para ouvir Debussy, vai se emocionar toda a vez que ouvir... Porque o sucesso hoje em dia tem que ser tão deprimente e constrangedor para aqueles que o apreciam? Porque uma rádio precisa desaparecer do mapa porque 600 mil pessoas a escutam e não 2 milhões? (e garanto que a audiência da Ipanema é bem maior do que 600 mil).

A resposta é muito simples (não, não é simples nada): porque criamos uma humanidade civilizada e socializada demente, somos os macacos que se acham superiores fazendo sempre as mesmas macaquices idiotas, julgando pessoas, reprimindo os diferentes, mudando o que não se encaixa na popularidade. Nos esquecemos que hoje nos chamamos de "civilizados", "sapiens", deveríamos ser muito mais "evoluídos" e sermos capazes de usar a nossa tão falada capacidade de "consciência" sobre o que está ao nosso redor. Mass envergonhamos cada vez mais o nosso gênero, a nossa linhagem da qual somos os únicos restantes, porque simplesmente não conseguimos ter senso crítico de qualquer coisa e engolimos tudo que nos oferecem, felizes ainda na ilusão de achar que tivemos "opções", sem saber que seguimos as piores delas. Bonobos fariam muito melhor do que nós, não tenham dúvidas.

Tomara que seja só jogada de marketing da Ipanema e que a programação não mude segunda-feira, curto muito quando eles tocam AC/DC segunda-feira de manhã....

Atualizando: realmente era uma jogada de marketing da Rádio Ipanema, e muita gente caiu (eu caí? sim, mas eles foram muito convicentes ;) ). Mas nessa história toda eu descobri uma rádio web bem legal: http://radioputzgrila.com.br/site/ #ficadica


1 comentários:

Piter Keo disse...

Esta é realmente uma faceta ruim da nossa espécie, algo vergonhoso. Me revolto demais com estes tipos de discriminação, onde só o que todo mundo ouve é que presta.
Diversas vezes fui criticado por pessoas próximas por algo que se encontra na minha playlist, pedindo para eu trocar de música por aquilo ser ruim, mta gritaria, mto triste, mto pop, sempre muito alguma coisa. Mas aí se dois meses depois esse artista vira mainstream, todos aqueles que antes diziam detestar, agora pulam emocionados com a mesma música.
Esta é uma atitude facepálmica mor no meu ponto de vista.

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